Tenho orgulho de ser brasileiro! E quando ouço alguém falando mal do meu país, meu orgulho de ser brasileiro me atazana e me enrijece – realmente eu não gosto, e isto externo com firmeza. Mas temos que reconhecer que em alguns pontos precisamos modificar. Nem me refiro aqui aos aspectos politiqueiros, ou à tributação excessiva impingida pelo governo e nem às falcatruas e desmandos apadrinhados pela lentidão judiciária. Refiro-me a algo muito mais próximo de cada um de nós: nossas empresas.
Ainda é comum se ver donos de empresas, diretores e gerentes acreditando que o tempo não passou desde os anos ’80 – continuam “tocando” seu dia-a-dia como se ainda tivessem naquele então. Dirigindo e gerenciando a empresa da mesma forma que no então faziam: clientes tratados como míseros dependentes fregueses, área comercial com vendedores tipo tiradores-de-pedido, preço dos produtos calculados com base nos custos de fabricação (como se o preço ainda fosse definido pela empresa e não pelo mercado, e como se preço tivesse relação com custo). São empresas que ainda guardam um velho e lamentável paradigma de que nós, brasileiros, sempre damos um jeitinho. Esta ginga vale, sem dúvida, na pelada do futebol, nos momentos de lazer e diversão entre amigos e em muitos outros momentos, mas, com certeza, não vale para levar a empresa ao sucesso lucrativo e perene.
Lembro-me daquela antiga piada: um motorista trafegava pela avenida expressa quando, pelo rádio, ouviu o repórter do helicóptero: “Atenção, cuidado: tem um carro trafegando na contramão pela avenida expressa”. Ao que o motorista vociferou: “Que repórter tonto! Não é apenas um carro na contramão: são centenas!”.
Estamos na contramão do mundo – e achamos que estamos certos e o mundo está errado. Exemplos? Temos um dos mais baixos índices do mundo em treinamento dos nossos funcionários. Nossa equipe de vendas ainda está construída sobre conceitos de “tirar pedidos”. Valorizamos mais o faturamento do que a margem de contribuição (margem de contribuição é faturamento menos custos variáveis). Calculamos o preço de venda com base num pretenso custo do produto obtido por rateio. Não valorizamos a certificação pela ISO 9000 enquanto o mundo avança numa velocidade espantosa: temos menos de 9.000 empresas certificadas – perdemos feio para a Austrália(!) que nos bate com o dobro: 18 mil; França e Índia com o triplo; Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido e Espanha nos solapam de cinco a zero!; Japão já está beirando os 55 mil, Itália desponta com quase 100 mil e China – China! – estoura com mais de 140 mil – e ainda temos executivos que não entenderam como se beneficiar de uma certificação bem implantada da ISO 9000. Continuamos almejando a satisfação dos nossos clientes tendo uma equipe de funcionários destreinada e desmotivada – como se uma coisa nada tivesse a ver com a outra. Reclamação de clientes é entendida como uma chatice que nossas organizações têm que conviver; e, acredite, ainda há empresários e executivos proclamando: “ah, como meus clientes me aborrecem”. E o modismo? nada como nos aproveitarmos dos incautos: se o momento clama pela empresa dita socialmente responsável; vamos nos aproveitar marqueteiramente da “onda” e assim nos declararmos – vale tudo: promoção de venda, desconto nas mensalidades, cesta básica, cobertor para os pobres – como se isto fosse Responsabilidade Social propiciamos um monumental engodo.
Até quando?
A resposta é fácil: até quando o mercado e nossos clientes conseguirem engolir o sapo que lhes enfiamos garganta abaixo. Mas, creia: o tempo está acabando: o fim está próximo. Muito, mas muito brevemente, somente certos tipos de empresas permanecerão vivas e com saúde: serão aquelas que enxergarão que não adianta remar contra a maré: terão, com certeza, que andar no fluxo da evolução, da competência, da qualidade cada vez maior e dos preços cada vez menores – custe o que custar.
Revista Profissional e Negócios – Edição Especial – Dezembro/2006